Olá caros leitores! Não sei exatamente o que vocês estão pensando sobre essa postagem, então antes de tudo vou explicar melhor porque a fiz e o que vão encontrar pela frente. Desde que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, sugeriu a legalização da Maconha a presidente Dilma Rousseff o tema voltou a voga na imprensa brasileira. Isso despertou meu interesse no assunto, comecei algumas discussões e percebi que o tema era polêmico e pouco conhecido tecnicamente. Percebendo a importância do assunto e a falta de informação resolvi aprofundar um pouco minhas pesquisas sobre ele. Esta postagem é fruto da minha pesquisa superficial, embora já me pareça muito em relação ao conhecimento da maioria. Espero que lhes seja proveitosa a leitura.
Agora, antes de começar a falar efetivamente da maconha quero esclarecer um termo que vou utilizar: o canabizar. Esta palavra não existe oficialmente na língua portuguesa, mas é utilizada para falar sobre a maconha e seus usuários. É uma espécie de derivado do nome científico da maconha, Cannabis sativa. O termo é preferível, pois, para algumas pessoas, o termo maconheiro esta ligado a marginalidade. Dessa forma quando me referir a canabista é o usuário da maconha; assim como canabizar é o ato de ingeri-la.
Primeiramente quero refutar a ideia daqueles que pensam que o assunto é de discussão recente, quando na verdade é um dilema da humanidade a séculos. Em 525 d.C. autoridades do Cairo fizeram fogueiras públicas de maconha, ato que autoridades brasileiras repetiram em 1999, só que diante câmeras de TV. Esses foram atos de repressão, no Brasil as discussões começaram efetivamente com o 1º Simpósio Carioca de Estudos sobre a Maconha, realizado entre 7 e 11 de novembro de 1983, tirando os debates dos institutos médicos e entidades jurídicas e expondo-o a público.
História da Maconha
Não há unanimidade quanto a datas de quando o homem começou a utiliza maconha, há provas concretas de que isso ocorreu a 3 mil anos, embora existam evidencias, como a presença de folhas de maconha em desenhos de túmulos chineses e egípcios, anteriores desta data. Historiadores divergem entre 5 e 8 mil anos. Enfim, são muitos séculos em que o canabismo faz parte de nossa cultura.
Sabe-se que várias tribos indígenas, de vários lugares do globo, já canabizaram, ou ainda canabizam, por motivos rituais e/ou físicos. Não vou me aprofundar nesse aspecto, não que não seja importante, mas sai um pouco do foco da discussão política que desejo fomentar com esta postagem.
A partir da década de 20 famílias norte-americanas passaram a cultivar maconha em suas residências, o que ocorreu também no Brasil em regiões do Nordeste e do Sul do país. Até a década de 30 não havia imposições legais para este cultivo, até que a crise econômica e a intensa migração de mexicanos fizeram com que o governo dos EUA tomasse iniciativas contra a maconha. Mas havia um problema: até então as pesquisas relativas aos efeitos do canabismo não apresentavam consonância. Foi então que o Congresso americano, no início da década de 70, dedicou 1 milhão de dólares a Comissão Shafer, destinada a esclarecer todas as divergências existentes das pesquisas já feitas e iniciar novas. Não teve resultados concretos relevantes.
O movimento hippie teve grande importância na disseminação do canabismo, iniciado por volta da década de 60, também conhecido por movimento de contracultura. Não tive tempo de me aprofundar nesse assunto, o que posso afirmar é que eram jovens que não aceitavam muitos dos paradigmas da sociedade da época. Dessa indignação surgiram diversos protestos pacíficos pelo mundo afora. Para a maconha este foi o marco de quando ela deixou de ser associada somente a pobres e negros e passou a ser vista como droga das classes média e alta também.
Em agosto de 1980, o juiz carioca Álvaro Mayrink da Costa inocentou um garoto por porte de maconha, suas palavras sobre o causo foram as seguintes: “A maconha faz parte dos usos e costumes da sociedade de hoje: 80% dos jovens entre 19 e 23 anos já a experimentaram. Considerar como crime esta prática atenta contra os direitos humanos e as garantias individuais. É uma herança nefasta do Estado totalitário”.
A partir de então os movimentos passaram a ser mais homogêneos e disseminados por todo o mundo, sem que algum se destacasse muito, exceto uma passeata feita por um movimento inglês no dia 6 de maio de 2000, onde mais de 5 mil pessoas fizeram uma manifestação pacífica caminhando, cantando (Bob Marley) e canabizando entre duas praças famosas de Londres. Todo o progresso foi acompanhado pela polícia, que neste dia não reprimiu o consumo. Uma das palavras de ordem foi No victim, no crime (se não há vítima, não há crime).
Maconha e a medicina
Saindo do campo histórico e entrando nas ações e reações provocadas pela Cannabis sativa em nosso corpo, só antes de qualquer coisa quero ressaltar que sou leigo nessa área e estou aqui somente expondo resultados de algumas pesquisas feitas por profissionais, pesquisas estas que utilizei para entender melhor o que era esse universo da maconha.
A maconha possui substâncias psicotrópicas e psicodislépticas, ou seja, viciantes e alucinógenas. O tetrahidrocanabinol (ou simplesmente THC) é a principal substância alucinógena da maconha, mas além de alucinações ele causa diversos efeitos no corpo humano, comprovados cientificamente, dos quais vale ressaltar: atinge linfócitos, diminuindo a imunidade do organismo; impede a síntese do DNA; aumente o apetite, principalmente por doces; aumente a frequência cardíaca; interfere na transmissão e armazenamento dos neurotransmissores; fraqueza muscular; altera as sensopercepções (alucinações); além de outros efeitos. O THC é lentamente eliminado do organismo, ainda encontrado no sangue 3 dias após o consumo.
Esses são os efeitos provocados pelo THC, a maconha como um todo afeta ainda mais o corpo humano, causando desde distúrbios físicos a psíquicos. Embora haja diferenças de intensidade de indivíduo para indivíduo, chegando até ao ponto de alguns não sofrerem de distúrbios ou os afetarem em intensidade diferentes.
Dentre as alterações físicas causadas pela maconha cabe ressaltar a hiperemia nas conjuntivas (vermelhidão no branco dos olhos); pulso acelerado; diminuição na produção de saliva; dilatação da pupila dos olhos; o movimento das pálpebras pode ser afetado, ficando mais lentas; a fala também pode ser afetada, num discurso verbal lentificado.
Quanto à questão do vício, muito se diverge na comunidade médica nesse assunto. O fato é que já foram realizadas pesquisas que colocam a maconha no mesmo nível de dependência da cafeína, ou até mesmo abaixo dela, em comparação com outras drogas como nicotina, álcool, heroína e cocaína. O que é mais aceito é que a maconha vicia muito mais psicologicamente do que fisicamente.
Maconha e a psicologia
Muitos podem pensar que no âmbito da psicologia o ideal e estudar os efeitos do consumo da maconha na pessoa, ou até mesmo em como ajudá-la a se desvencilhar do vício. Não estão errados, mas aqui nessa postagem irei abordar aspectos que levam jovens a terem contato com a droga, creio que assim ficará mais claro porque esses usuários escolhem esse caminho, por qual muitos deles tem consciência que não é certo e mesmo assim o seguem.
Não existe um motivo unanime que leve jovens a canabizar, cada caso deve ser estudado individualmente, claro que levando em conta algumas variáveis universais. O principal é nos livramos de alguns preconceitos ao falarmos de canabistas, a última coisa que devemos fazer é segregá-los da sociedade, dessa forma só estamos condenando-os ao vício.
Se lhes perguntarem porque um jovem canabiza você provavelmente vai dizer que é por influência das “amizades”, que também é um fator, mas não é o maior motivo que o leva a tal ponto. Para entendermos esse jovem precisamos levar em considerações varias questões de sua vida, como características pessoais, momento de vida, ambiente familiar, movimentos macro e microssociais, além de outros. Vou falar melhor de alguns abaixo.
Nas características pessoais devemos levar em conta a vida do jovem, como ele se relaciona com sua família e amigos, se tem contato constante com várias pessoas, se é só, se costuma compartilhar seus problemas ou se toma tudo para si, se suporta bem frustrações, se é auto-destrutivo, se é muito influenciável, se é egoísta, se se considera onipotente, e diversas outros comportamentos. O que quero dizer é que o jovem, na maioria das vezes, não canabiza pelo simples ato de canabizar, quase sempre há um plano de fundo conturbado, problemas, discussões, frustrações, diversidades, complicações relacionais com outras pessoas e afins, que levam o jovem a procurar uma válvula de escape para tudo isso, e acaba encontrando alívio e prazer na maconha.
Devemos levar em consideração o momento da vida do jovem, crianças podem ser mais influenciáveis, enquanto adolescentes tendem a seguir tudo que seu grupo faz. Influências familiares também contam muito, dependendo da educação dos pais adolescentes podem ser mais ou menos suscetíveis a droga. O ambiente familiar também é muito importante, por exemplo, crianças que convivem com pais que possuem algum vício são mais propícias a desenvolverem algum vício em seu desenvolvimento pessoal.
Voltando a questão do vício, a maconha propicia diversas reações e essas divergem em cada usuário, portanto afirmar qualquer coisa sobre o porque e a intensidade do vício da maconha será muito inconstante. É fato comprovado que ela causa prazer imediato devido a sua influências em certas regiões cerebrais, isso aliado as alucinações e diversos outros fatores fazem usuários recorrerem constantemente a maconha. Alguns nem chegam a ser viciados, só possuem o hábito de canabizar, esse que associam a alguma atividade corriqueira do seu cotidiano. Ou podem usá-la como válvula de escape, e quando precisam vão até a maconha conseguir esse alívio.
Enfim, para não prolongar muito o texto, mesmo que já deixei de escrever muita coisa, o que quero ressaltar nessa seção é que a maconha é tanto um problema social quanto medicinal, e que não podemos deixar de lado essa questão para discutirmos o assunto.
Teoria da escada
Já muito foi discutido sobre essa teoria: de que a maconha é o primeiro “degrau” para outras drogas mais nefastas. Não há pesquisa que comprove essa teoria, e mesmo as que foram feitas são contestáveis. O grande problema é que são muitas variáveis para serem analisadas, por exemplo, afirmar que usuários de cocaína foram influenciados ao consumo desta através da maconha, pelo fato de a grande maioria ter se iniciado no mundo das drogas ilícitas por ela. Contudo, esses usuários, até uma quantidade maior, consumiu, antes da cocaína, café e álcool, que por mais que sejam de consumo liberado, também são viciantes.
Pesquisas realizada em Campina Grande, pelo ex-deputado Tata Agra (morto em 1999), realizou experiências num sentido oposto ao da Teoria da Escada. Ele usou a maconha com viciados em outras drogas, para diminuir o consumo das drogas mais pesadas. Conseguiu resultados positivos, embora isso não possa ser usado para refutar por completo a Teoria da Escada, já que é uma pesquisa isolada.
Portanto essa teoria acaba não sendo muito válida, embora, mesmo assim, seja recorrentemente mencionada quando o tema em discussão é a maconha. E de certa forma ela pode ser provada quando saímos do âmbito medicinal e psicológico e entramos no contexto social em que a droga é ofertada. Se para o tráfico é lucrativo vender outras drogas além da maconha, é obvio que será oferecido ao usuário dela outras drogas. Dessa forma temos que discutir a atuação do tráfico, não da própria droga na pessoa.
Diferença entre legalizar e descriminar
É importante ressaltar também a diferença entre legalizar e descriminar, que juridicamente não significam a mesma coisa. Descriminar significa que não é configurado crime perante a lei tal prática, contudo, mesmo a lei não considerando crime, não significa que a comercialização é permitida; o que só seria possível com a legalização.
Quanto à maconha precisamos considerar, além desses dois fatores, que os atos de produzir (no caso plantar), vender e consumir são atos diferentes perante a lei, ou seja, a lei pode “permitir” o uso da maconha e continuar prevendo crime o plantio e a venda da planta Cannabis sativa.
Maconha e a política
Há muito que se falar sobre a política e a maconha, mas vou começar por um caso, seguido pelo Brasil, que pode ser um ótimo foco para uma discussão: a guerra as drogas. Sem muito detalhamento histórico, a alguns anos os EUA declarou guerra as drogas, adotou o combate violento e armado para repreender e exterminar o uso de drogas nos Estados Unidos. O Brasil seguiu o mesmo caminho, e ambos têm sofrido demasiadamente com essa escolha.
Basicamente os dois países pouco produzem, na verdade a quantidade de droga produzida em seus territórios é ínfima, o que supre realmente a demanda dos dois é o tráfico internacional. Sabendo disso os dois governos apostaram em políticas de monitoramente de suas fronteiras, os EUA muito mais que o Brasil evidentemente, e do combate armado contra as organizações criminosas instaladas dentro das comunidades que recebem e vendem a droga para a população.
Mesmo depois de anos seguindo essa linha de combate não se tem conseguido nenhum progresso, muito pelo contrário, o tráfico e a violência só tem crescido nos dois países.
É obvio que dessa forma não se alcançarão os resultados preteridos, isso só incentivou os traficantes a se armarem, pois precisam combater a polícia armada para continuar com suas atividades. Há muito mais pontos políticos a serem abordados sobre o assunto, mas fico por esse ponto somente, que considero o mais importante nesse contexto.
Precisamos agora discutir sobre qual é o melhor caminho para o Brasil, não resta dúvida que precisamos integrar as comunidades carentes, oferecer uma alternativa de futuro para as crianças que ali vivem e que ali nascerão que não seja o tráfico e a violência, mas e quanto à droga? Já é comprovado que condição social não é o único motivo que leva os jovens as drogas, existem muitas outras variáveis nessa questão. Dessa forma o que o governo deve fazer para melhorar a situação do país? Mesmo o tema sendo recorrente há séculos, como disse no começo da postagem, muito pouco foi feito efetivamente levando em conta todo o tempo que passou. Se o governo por si só não fez nada até agora, talvez seja necessário um empurrãozinho por parte do povo, que é quem detêm o poder na democracia, não é?
Espero que tenha ajudado a entender melhor o que é esse universo da maconha. Agora quero lhes propor um debate virtual sobre o tema, adicionem a conta do Dia de Política em seu MSN discussoesbr@hotmail.com e no próximo domingo, dia 21 de agosto, as 20h todos que estiverem presentes podem expor suas opiniões, trazerem dados para serem partilhados e talvez até pensarmos, juntos, em ideias que podem ajudar a resolver todos esses problemas que as drogas tem causado ao nosso país (caso não possa participar do debate nesse data envie sugestões de outros dias e horários nos comentários desta postagem, dependendo dos casos modifico a data ou marco outro debate).
Gostei bastante da postagem, pude conhecer melhor a história da maconha, que por sinal eu não conhecia nada.
ResponderExcluirReferente à disseminação desta, penso que um projeto como este não deveria vingar tão cedo em nosso país. Como você mesmo citou acima, os fatores que culminam o consumo da droga não são poucos, sendo estes bastante divergentes. Se já é difícil tratar daqueles que sofrem problemas psicológicos, sem que tenhamos o “peguinha” liberado, o que dirá quando for aprovado. Vício é doença, seja este nutrido por xícaras de café ou gomas de mascar, e quem utiliza de ciclos viciosos como válvula de escape, obviamente terá problemas doravante.
É necessário que haja toda uma mobilização não só no setor da comercialização da droga e diminuição da violência – pontos que vêm sendo abordados muito mais que os outros, diga-se de passagem –, mas também na infra-estruturar hospitalar, conscientização e, principalmente na educação, no ensino de consumo para que o uso não se torne exacerbado e não vire um vício lá na frente.
Caso contrário, daqui a alguns anos teremos um governo retirando as propagandas, patrocínios, justificação e discriminação da canabização, assim como aconteceu com o cigarro, quando o governo percebeu que dava menos prejuízo empreender uma campanha contra do que a favor do uso deste.
É preciso que o “terreno” esteja muito bem preparado.